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Cultura e Políticas Culturais

Por Marcos Antonio Monte Rocha fabricadeimagens@fabricadeimagens.org.br Psicólogo, presidente da Fábrica de Imagens e articulador da Rede Latino-americana de Gênero e Cultura


Artigo para o Jornal OPovo do dia 30 de janeiro de 2016, em alusão aos 18 anos da ONG Fábrica de Imagens.

Artigo para o Jornal OPovo do dia 30 de janeiro de 2016, em alusão aos 18 anos da ONG Fábrica de Imagens.


Pensar cultura e políticas culturais foi um desafio que a Fábrica de Imagens se impôs há pelo menos 15 anos. Várias pistas seguimos passando pelos feminismos, especialmente, os “feminismos do sul” e “feminismos latino-americanos”, pela antropologia e pela crítica pós-colonial.


O que há em comum nestas perspectivas é o consenso sobre a centralidade da cultura para a vida social, política e econômica. Não se pode mais pensar cultura em um outro estatuto que não seja aquele expresso por Stuart Hall, “por bem ou por mal, a cultura é agora um dos elementos mais dinâmicos – e mais imprevisíveis – da mudança histórica no novo milênio. Não deve nos surpreender, então, que as lutas pelo poder sejam, crescentemente, simbólicas e discursivas, ao invés de tomar, simplesmente, uma forma física e compulsiva, e que as próprias políticas assumam progressivamente a feição de uma “política cultural”.

Quando Hall cita políticas culturais, indica que todo o corpo das políticas internas e externas, não apenas aquelas que convencionamos chamar de, stricto sensu, políticas culturais, devem estar atentas à cultura como elemento produzido discursivamente, ordenado historicamente e construído, reconstruído e passível de mudança no jogo interminável das relações de poder e saber.


Acrescentaria ainda a esta noção o entendimento da cultura como uma complexa rede de significados que estabelece lugares, performances, hierarquias e valores. Como estrutura plástica em permanente devir na qual o processo de produção cultural (enquanto produção de discursos e sentidos e, enquanto processo político, histórico, estético e psicológico) distingue idênticos e diversos, estabelecidos e outsiders e, em última instância promove condições de vida e de aniquilamento. E, por fim, como campo sempre inacabado, de disputa permanente no qual lógicas podem ser invertidas, hegemonias desbancadas, histórias recontadas, novas sociabilidades construídas e sujeitos e práticas subalternas, nos termos de uma visão de mundo colonial, patriarcal e capitalista, visibilizadas.


Cremos que precisamos cada vez mais de uma política cultural que aponte, como assinalaria Laclau e Mouffe, para a emergência de uma democracia radical que, sem descuidar do incentivo às artes, ao patrimônio, a memória e a tradição, afirme um compromisso de realçar, de promover populações, identidades e práticas sociais não hegemônicas e historicamente invisibilizadas, escondidas, violentadas e ameaçadas, inclusive, de extermínio por uma cultura hegemônica machista, classista, racista, sexista, lesbohomotransfóbica e capacitista, isso para citar apenas alguns dos marcadores que fundam a desigualdade e a violência em nossa sociedade.


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