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A democracia que sonhamos e forjamos desde a Cultura Viva Comunitária Latino-americana.


Por Marcos Rocha, Psicólogo e diretor da Fábrica de Imagens. Articulador da Rede Latino-americana de Gênero e Cultura, integrante do Movimento Latino-americano de Cultura Viva Comunitária, membro da Comissão Cearense Cultura Viva e das Redes Cearenses Cultura Viva de "Gênero e Sexualidades" e de "Cultura e Infância". Pesquisador em cultura, direitos humanos, gênero, sexualidades e decolonialidades.


Um breve olhar para o Cultura Viva Comunitária talvez fosse o suficiente para se perceber que seu espírito é por definição e ontologicamente afirmativo. Um sim eloquente e retumbante, quente e acolhedor, potente e sensível à vida!


O que há, por ventura, de negação, é quando muito efeito subjacente, daqueles que necessariamente surgem das grandes afirmações. Na caminhada, e por muito já termos caminhado, divisamos caminhos possíveis e seguimos. A negação de outros caminhos não passa, pois de um pseudo fenômeno, diante da largueza e profundidade afirmativa de olhos que já viram, sentiram e fizeram muito.


Cultura Viva Comunitária, no entanto, não é panaceia, tampouco um monólito, é antes, e decididamente, um caminho construído ao caminhar junto. Uma caminha coletiva. Um caminho que precisa cruzar, trocar, fortalecer-se com outros caminhos também construídos por gente que gosta de caminhar junto.


Afirmar a vida aqui é afirmar o bem viver mirando inegociáveis horizontes.


Um horizonte político, que sem negar os conflitos, entende que não há saídas individuais para problemas coletivos e que onde campeia a violência a própria política já morreu.

Um horizonte ético, que reconhece as diferenças e as semelhanças, afirmando-as e acolhendo-as num contexto de uma ecologia planetária e do exercício do cuidado.

Um horizonte estético que aponta para a pluralidade e a diversidade, para a potência criadora que emerge de qualquer chão e descreve pontos de fuga capazes de criar, como alguém já disse, mundos no mundo.


Um horizonte econômico que põe a economia a serviço da vida, da preservação da vida, da geração de mais vida, de vida em abundância para todos, todas e a natureza e não a serviço da acumulação de capital para bem poucos que míngua a vida de muitos e gera mortes inumeráveis. Morte de ecossistemas, originários, rios, negros, matas, negras, lagos, mulheres, oceanos, pobres, por gerações e gerações...


Por todas essas afirmações, horizontes e olhares amadurecidos na caminhada coletiva negamos sim os três monstros necrófilos do nosso tempo. O capitalismo, que mercantiliza tudo que é vivo, põe valor e descarta (mata, destrói) o não valorizado. A colonialidade que nos ensina, sutil ou brutalmente (matando real ou simbolicamente) o quanto somos menores por nossa cor, nossa “raça”, nossa origem, nosso pensamento, nossos jeitos, tempos e afetos. O patriarcado que inferioriza (e mata) tudo que foge, subverte as normas conservadoras de sexo/gênero, essenciais a lógica colonial e a acumulação do capitalismo, e a heteronorma. Negamos sim estas estruturas moedoras de corpos, moedoras de vida, moedoras de esperanças e sonhos.


Sonhamos e em nossos sonhos forjamos. Forjamos, e no forjar sonhamos. O sonho e a forja para nós de Cultura Viva Comunitária Latino-americana são inseparáveis. Sonhemos e forjemos pois, uma outra América Latina, uma outra Abya Yala juntos, juntas e juntes!

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